quinta-feira, 18 de outubro de 2007

MAIS UMA VEZ A M.


... por razões profissionais os pais da M. (lembram-se dela não é verdade ?),estão fora do país e como sempre ela fica comigo.
Ontem fui chamada à pressa à escola porque ela tinha dado, dentro da sala de aula e a S., que também é minha sobrinha, ameaçado dar, já no pátio, uma valente bofetada numa colega de turma que tinha feito comentários pouco simpáticos acerca da "particularidade" da M.
A presidente do Conselho Executivo, porque a M. frequenta uma escola normal tem apoios suplementares em casa e até é muito bem sucedida nos estudos, fez e muito bem a habitual palestra sobre a violência e falta de respeito para com o professor que dava a aula, a M. aceitou pedir desculpas e viemos embora.
Chegadas a casa e ela um bocadito de orelha murcha é certo mas animadita até um bocadito de mais face à situação, pergunta-me assim à queima roupa: " olha lá, Tita isto de ter um bocadinho de mau feitio é hereditário?" e eu que conheço bem a "peça", apresso-me a responder: "Não vás por aí meu amor que a nossa ligação é apenas de coração, não de sangue", "então já sei, é contagioso, é isso, o mau feitio é hereditário e contagioso e o que eu tive hoje foi um pequeno ataque de "feitiozinho de trazer por casa"
Mais uma vez esta miúda me surpreendeu, embora por caminhos meio tortos, pela positiva!
Mais uma vez tenho a certeza que vale a pena a luta diária que todos em torno da M. e ela própria travam para compensar os estragos da síndrome de Down, mais uma vez, repito que tenho uma mágoa enorme quando penso em todas as crianças deste país que como ela são "especiais"e não têm acesso aos apoios e por vezes, infelizmente, até ao amor que ela tem tido e lhe permite viver a vida como uma qualquer outra miúda de 15 anos.
Tita

7 comentários:

Unknown disse...

Tomara muita gente, que se apregoa normal, e com quem nos cruzamos na vida, sofrer de "anormalidades" como a da tua sobrinha ... tornava-as bem mais agradáveis ao trato!
Também conheço um, que sofre de síndrome de Down profundo, nem sequer fala, mas é um encanto na sua maneira de mostrar o quanto gosta de nós!
Muitas coisas temos em comum, de facto!
E gosto que me tenhas enontrado e trazido para o teu convívio :)

Laetitia disse...

É deveras uma miúda formidável...

Infelizmente não são apenas as crianças que têm o Síndrome de Down que são afectadas pela discriminação e indiferença dos outros.

Todos os dias passam-me casos pelas mãos de crianças que são rejeitadas pelos próprios pais pelos erros deles...

Enfim!

Beijocas

pensamentosametro disse...

Gione,

é não é? a minha M. é um colosso, todos nós sabíamos quando foi decidido que ela nasceria que corríamos o risco de ela ser profunda, mas O lá de cima deu um empurrãozinho e como começou a ser estimulada desde a hora em que nasceu pois já sabíamos da sua especialidade e fomos todos aprendendo sobre a Down, acho que foi muito útil e determinante para o seu nível de desenvolvimento actual, como também o foi haver meios económicos para a acompanhar devidamente, tens toda a razão,o teu amiguinho com Down, mesmo profundo tem que ser a coisa mais meiga à face da Terra. Agradeço as tuas palavras e sim, tivemos sorte em "tropeçarmos" uma na outra num tempo em que encontrar um SER humano à séria vai sendo mais e mais raro.

Beijos

Tita

pensamentosametro disse...

Estrelinha,

Não podias ter mais razão, cabe-nos a nós ir tentando mudar as mentalidades, se em toda a nossa vida mudarmos uma só pessoa que seja podemos considerar que conquistámos uma difícil vitória.

Bjos

Tita

V. disse...

Tita, eu sei que uma mão não lava a outra mas... e a colega que fez os reparos sobre a particularidade da M.? Levou alguma "esfrega" sobre o respeito que se deve ter com os outros? Devia ser bilateral, esse "raspanete".

E olha, não sou a favor da violência, mas a tua M. é uma mulher de armas, não se deixa ficar. E sai à Tia ;)

Beijos às duas.

rosa disse...

à parte a palestra da violência... e agora que ninguém nos ouve, a bofetada foi muito bem aplicada!!!

pensamentosametro disse...

Thunderlady,

A senhora "presidenta" disse-me que não só tinha feito isso como iam dedicar um dia a sensabilizar os alunos para o respeito pela diferença, entretanto a outra miúda já veio pedir desculpa à M., mas tenho cá para mim que foi um bocadinho "suavemente" empurrada pela S...


Gaia,

Então não foi?