quarta-feira, 29 de abril de 2009


Eu sou uma rapariga da beira-Tejo, todos sabem a paixão enorme que tenho pelo Ribatejo, pelo Ribatejo e pelo pelo Douro, particularmente pelo Douro vinhateiro e suas gentes, pelo Porto pela sua ribeira, esta paixão até já teve em tempos nome e código postal mas isso são outras histórias.

Hoje pensando nos que no coração tenho ali pelo Porto e arredores subindo até Lamego fica o poema sublime de Joaquim Namorado que ouvi a primeira vez pela voz especialíssima do fantástico diseur que foi José Carlos Ary dos Santos.


O Douro é um rio de vinho

que tem a foz em Liverpool e em Londres

e em Nova-York e no Rio e em Buenos Aires:

quando chega ao mar vai nos navios,

cria seus lodos em garrafeiras velhas,

desemboca nos clubes e nos bars.
O Douro é um rio de barcos

onde remam os barqueiros suas desgraças,

primeiro se afundam em terra as suas vidas

que no rio se afundam as barcaças.
Nas sobremesas finas, as garrafas

assemelham cristais cheios de rubis,

em Cape-Town, em Sidney, em Paris,

tem um sabor generoso e fino

o sangue que dos cais exportamos em barris.
As margens do Douro são penedos

fecundados de sangue e amarguras

onde cava o meu povo as vinhas

como quem abre as próprias sepulturas:

nos entrepostos dos cais, em armazéns,

comerciantes trocam por esterlino

o vinho que é o sangue dos seus corpos,

moeda pobre que são os seus destinos.
Em Londres os lords e em Paris os snobs,

no Cabo e no Rio os fazendeiros ricos

acham no Porto um sabor divino,

mas a nós só nos sabe, só nos sabe,

à tristeza infinita de um destino.
O rio Douro é um rio de sangue,

por onde o sangue do meu povo corre.

Meu povo, liberta-te, liberta-te!,

Liberta-te, meu povo! – ou morre.

11 comentários:

Laetitia disse...

Eu também gosto muito das terras nortenhas.
Bjinhos

mjf disse...

Olá!
Poema lindo...o Douro merece :=)
;=)

Beijocas

V. disse...

Ahhh, Alentejo, Alentejo...

:)

O pouco que conheço do Douro gostei muito.

BJS!!

kris disse...

Tita

bom dia


o Douro é mágico. as suas cores, o seu cheiro, a traquilidade!!!adoro!!

beijo

Rita disse...

E o Tua??? Eu adoro aquela zona do Pinhão, é lindíssima...
Jokas

Teresa disse...

Eu, de costela a cheirar a Douro e francamente conhecedora dos seus cheiros e recantos, de infância saltitante de socalco em socalco... Só posso dizer que me emocionei. Como sempre me emociono quando palavras assim vejo escritas sobre aquilo que me pertence de sangue e alma!

A Tita no seu melhor, das poucas pessoas que conheço que, aos outros, só deseja a felicidade. Em todas e quaisquer circunstâncias, sem olhar a meios e preconceitos de qualquer ordem. A todos estima e tem no coração.

Sabes bem que adorámos por aqui as tuas palavras, já to tinha dito.

Um beijo enorme delas, as duas que encostadas uma na outra te leram, sentindo o carinho destas palavras, e que se sentem, também, no teu coração. A minha Mãe e a Zézinha.

De mim, recebe aquele abraço.

Tens noção que saio de lágrima no canto do olho e assim com o meu estilo tchaannnaaaannnn desfeito, não sabes? :)

Aquele abraço, então!

Ribatejo e Douro - o puro do Porto ao Pinhão com cheiro a Régua e Lamego - de mãos dadas. Sem mais nada a acrescentar!

*

Graça Lopes disse...

Belo poema e não menos belas as palavras da Ovinho que me deixaram emocionada! Também eu amo o Douro, as suas cores e as suas gentes, algumas bem especiais!
Abraço.

Teresa disse...

Graça, ler a alma da Tita tem destes efeitos.

Escreve ao sabor do que sente.
E, depois, nós sentimos com ela. E como ela.

Beijo

Anónimo disse...

LOLOL

Anónimo disse...

Obrigada pelo lindo poema ao Douro... Que é de facto uma região muito linda em qualquer época do ano.
Também gosto muito do nosso Douro, venham todos até estas paragens.
Gena

Branca disse...

Olá Tita,

Fiquei deliciada com este texto, o Douro vinhateiro e suas gentes, como só José Carlos Ary dos Santos sabia escrever e dizer, de forma tão emocionante e sentida.
Não conhecia este poema, obrigada por mo dares a conhecer, já o guardei comigo.
Este post está impressionantemente belo! Sou suspeita porque não sendo do Douro vinhateiro, sou contudo do Douro litotral, o rio passa-me quase à porta a caminho da foz, numa paisagem também bem bonita, entre curvas, praias fluviais e margens altas e montanhosas, para além de ter passado boa parte dos meus fins de semana de infância na varanda da tia do meio, que morava na rua Cimo do Muro, na Ribeira, de que tanto gostas. E a Ribeira e o Cais de Gaia estão cada vez mais bonitos, depois das transformações sofridas nos últimos anos!
Se quiserem ler um amigo de Tabuaço, que tem há algum tempo um post do Douro vinhateiro e que trata também a vida dura doutros tempos, das gentes do Douro, no transporte dos vinhos em Barco Rabelo até Gaia, espreitem este link:

http://olhardexisto.blogspot.com/

Fica bem.
Beijinhos.